30 novembro 2017

"vida malvada"


Hoje tinha que aqui vir e escrever algo.
Estava a conduzir quando, na Antena 3, a locutora Isilda Sanches com a voz completamente embargada deu a notícia da morte de Zé Pedro, guitarrista dos Xutos e Pontapés. A comoção apoderou-se de tal forma da locutora que foi perceptível o seu chorar, o que, para além de demonstrar bem o seu sentimento, obrigou-me a um embargar da voz e a um estremecimento emocional.
Era sabido que o Zé Pedro estava doente, mas esta notícia apanha-nos sempre a todos de surpresa. Aqui há dias, o Tim deu uma entrevista ao Expresso (?) ou a outro jornal, que eu li e logo suspeitei, nas suas palavras, o estertor do amigo. Hoje chegou a confirmação.
Aproveito este momento de perda também para mim, para recordar a minha relação com a música dos Xutos. Se a memória não me atraiçoa, foi algures em 1987, aquando do lançamento do disco "Circo de Feras", que ouvi e registei o som da sua música. O single "os contentores" apareceu-me nos meus 13/14 anos e marcou. Motivou, se não estou em erro, o pedido persistente aos pais para comprarem esse disco em vinil - julgo, o primeiro que escolhi/escolhemos. A verdade é que ainda hoje, ao ouvir as músicas desse álbum, consigo acompanhar sem falhas, praticamente, todas as músicas do seu alinhamento. Ao contrário do que muitos dizem, a carreira dos Xutos não foi sempre pautada por boa música, considero que há períodos e alguns que nem sequer os dignificam, mas isso sou eu a dizer. O algum "Circo de Feras" foi o primeiro, foi por ele que conheci o universo dos Xutos & Pontapés, o resto veio depois e foi, na sua generalidade bom. É difícil escolher a minha música preferida, prefiro destacar algumas daquelas que mais me marcaram: "remar, remar"; "barcos gregos";  "homem do leme"; "sémen"; "Torres da Cinciberlândia"; "Esta cidade"; entre tantas, tantas outras.
Os Xutos foram, sem margem para dúvida, a banda cujos concertos eu mais assisti, por todo o país e mais do que uma vez em muitos sítios. A maior banda de música portuguesa perdeu um dos seus rostos e a música portuguesa ficou bem mais pobre. Mas isso só mais tarde o iremos perceber.
Do Zé Pedro recordo, principalmente em palco, o largo sorriso para todas as plateias e os largos movimentos de braços depois de mais um acorde na sua guitarra.
De tudo o que eles fizeram de tão bom, não tenho dúvidas em destacar "A vida malvada" como a música deles que mais me marcou e hoje foi, instantaneamente, a música que mais recordei, talvez porque, tal como eles cantam, a vida é sempre a perder.

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