13 agosto 2019

as capadeiras de Rebordãos

As mulheres de Rebordãos, no concelho de Bragança, ainda hoje são conhecidas por capadeiras. No contacto que mantivemos com os habitantes desta aldeia, por entre sorrisos, reconhecendo essa nomeada, não sabem a sua origem ou fundamento, conseguindo apenas justificar essa adjectivação pela bravura e coragem das suas mulheres. Entre várias expressões e comentários, registámos:

Dizem que somos bravas, que temos pelo na benta…; as nossas mulheres são fodidas, não se metam com elas…; ora, eu bem vejo pela minha, não há quem a ature…; elas são lindas, é que é das mais velhas, até às garotinhas, todas iguais...;

Ainda que exista esta atitude condescendente e até bem-humorada, por parte dos locais, face à nomeada recebida, não conseguimos recolher junto da população nenhuma versão relacionada com aquela que o Abade de Baçal documentou sobre a sua origem. Nas memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança, o Abade remete a sua presumível origem para a segunda metade do século XIX, baseando-se numa carta do juiz de direito da comarca de Bragança ao administrador do concelho, em que se relatava:

«Ill.mo Snr. – Tendosse instaurado hum processo crime contra hûas mulheres de Rebordãos, por causa de hum acontecimento que entre ellas e hum criado do Estafeta de Rebordãos houve; e tendosse espalhado hontem e hoje que o dito criado apareceu morto no Adro da Igreja da Senhora da Serra; e constandome que V. S.a já procedera a varias averiguações a tal respeito, rogo a V. S.a que com a maior brevidade me informe sobre o resultado das suas averiguações, por assim o exigir o andamento do processo...... Bragança 16 de Agosto de 1855. O Juiz de Direito, B.meu Car.al de M.es Th…» (Alves, tomo VII, 2000:649)

O mesmo autor refere um outro episódio posterior que terá contribuído para o reforço dessa mesma nomeada:

Maria Gonçalves do Vale, de Rebordãos, filha de Francisco Gonçalves do Vale e de Teresa de Morais, presa em 1875 por infligir maus tratos a um galego (parece que o queixoso se gabava de proezas cupidíneas que não fazia, donde a irritação das raparigas de Rebordãos que, em legítimo desforço, o castraram. (Alves, tomo VII, 2000:188)

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