Não sou professor de literatura, nem de qualquer outra disciplina relacionada. As minhas aulas são, como um destes dias um novo aluno qualificou, mais ou menos filosofia e, por isso, muito aborrecidas. Tratando-se de jovens e, alguns, menos jovens adultos, as matérias leccionadas permitem-me questionar e espicaçar as suas mentes, de uma forma que, tendo em conta as suas expressões faciais e verbais, os seus espantos e as suas incompreensões, muitas vezes a mim próprio me surpreende.
Em Epistemologia, na tal que muitos consideram como um ramo da filosofia, o objectivo é que se perceba o que é a Ciência, o que não é Ciência e ainda o que é a pseudo-ciência, assim como distinguir os diferentes tipos de conhecimento em duas grandes tipologias: senso comum e científico. Pois bem, este último semestre e para grande surpresa minha e sem me recordar a que propósito, dei comigo a tentar passar a mensagem da importância da literatura para o (re)conhecimento das diferentes épocas históricas, para a importância etnográfica das descrições dos lugares e ambientes e para a mais-valia dos diálogos e das suas personagens para a localização temporal e espacial das mesmas. A determinado momento fui interpelado por um aluno que me perguntou por autores portugueses que eu considerava exemplares dessa importância literária. Apresentei alguns autores e destaquei, como poderão adivinhar, o nome de J. Rentes de Carvalho. Nem uma daquelas almas reconheceu este nome. Escrevi-o no quadro e alguns, num esforço de associação, perguntaram-me por títulos da sua obra. Indiquei três ou quatro, dando destaque ao último: "Meças", ao primeiro: "Com os Holandeses" e ao primeiro que li: "Ernestina". Nada.
Passados uns dias, o nome de J. Rentes de Carvalho era presença assídua nas minhas aulas e livros seus circulavam pelas mãos de alguns alunos. Um deles, já no fim do semestre, ao falar comigo em privado, pediu-me para lhe dar conhecimento de visitas deste autor à região do Porto, pois gostaria de assistir a alguma sessão de apresentação ou lançamento de obra sua. Ficou registada a vontade e a promessa de assim acontecer.
1 comentário:
Acredito que muitas vezes (a grande maioria das vezes) não percebemos a capacidade que temos de influenciar a vida de outros. E, quando temos como profissão transmitir conhecimento e conhecimentos acredito que a possibilidade de isto acontecer aumenta exponencialmente.
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