14 janeiro 2020

a senhora dança

Esguia sem ser alta, é figura frágil, apresenta-se regularmente bem vestida, apesar dos tons garridos das vestes e das maquilhagens, às tantas porque julga que consegue esconder, ou pelo menos disfarçar, as rugas que lhe invadem o rosto. Estará algures na sua sexta década de existência. O olhar atento a todos os movimentos no café denotam alguma intranquilidade, mas quem a vir assim sentada e sossegada, numa aparente normalidade, jamais adivinhará o desarranjo que, em intervalos de minutos, lhe assalta o ser e a faz saltar e dançar no espaço disponível, ao ritmo de um qualquer som que só ela consegue alcançar e tendo por par alguém que só ela sente. Indiferente ao resto que a rodeia, rodopia até ao fim dessa música imaginada e perante os olhares esquivos, alguns surpreendidos, outros envergonhados, de todos nós que julgamos impossível alguém manifestar assim a sua condição, senta-se tranquilamente e regressa à condição de igual aos demais.

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