05 novembro 2025

mais cedo que tarde

No dia 29 de Julho publiquei aqui um texto a que dei o nome de "modas e resistências", no qual partilhei a minha percepção sobre a mudança de paradigma na indústria automóvel, de motores a combustão para motores eléctricos e da minha fundamentada resistência a esta nova tecnologia. Terminei esse mesmo texto afirmando que "se tiver que trocar de veículo, algo que mais cedo que tarde vai acontecer, irei permanecer no diesel ou na gasolina."
Pois bem, o mais cedo que tarde aconteceu. Vendi o carro que tinha desde 2013, um Golf Plus, e comprei um novo (semi). Ao contrário do que tinha acontecido na compra anterior, onde não foi propriamente uma escolha, mas sim uma oportunidade de negócio, desta vez a compra foi precedida de reflexão e ponderação sobre qual a melhor opção para a minha/nossa vida.
Depois de algumas visitas a diferentes stands e marcas, de comparações estéticas e financeiras, e debates familiares, acabámos por decidir comprar um Volvo, que fui buscar à JOP Gaia no dia 8 de Outubro. O critério decisivo foi a Andreia o ter considerado, dentro daquilo que era a nossa capacidade financeira, o automóvel mais bonito.
Tenho o Volvo à quase um mês, pouco ando nele, só a espaços e quando somos mais de dois para viajar é que sai da garagem. Nunca tinha comprado um Volvo, mas desde muito novo, talvez desde os vinte anos, me habituei a conduzir essa marca... a empresa em que trabalhei durante praticamente toda a década de noventa do século XX, tinha na sua frota vários Volvos: 440, 460, 850, 850 T5, entre outros. Sempre gostei da Volvo, pois eram bons carros e transmitiam-me fiabilidade e segurança.
Agora tenho um Volvo. Eu gosto do carro e até me sinto confortável dentro dele, mas não consigo, pelo menos por enquanto, libertar-me de um certo incómodo... precisarei eu de tanto carro?
E, tal como já antecipara, a opção eléctrica não foi sequer equacionada.

racismo de inteligência

Sirvo-me do conceito de Pierre Bourdieu "racismo de inteligência" (1978), para me indignar, uma vez mais, com as recentes declarações da ministra da saúde, Ana Paula Martins, sobre a morte de uma mulher migrante, grávida, e do seu recém nascido, num hospital de Lisboa. Ana Paula Martins, acossada, incapaz de dar resposta aos problemas existentes no SNS e impotente perante o mais que aparente descalabro nos serviços hospitalares, revelou-se, outra vez, afirmando algo como...

"Casos como este dizem maioritariamente respeito a grávidas que nunca foram seguidas durante a gravidez, que não têm médico de família... são recém-chegadas a Portugal, com gravidezes adiantadas. São grávidas que não têm dinheiro para ir ao privado, grávidas que algumas vezes nem falam português e que não foram preparadas para chamar o socorro. Por vezes, nem telemóvel têm."

Esta declaração, para além da ofensa descarada à desgraçada que faleceu, é uma expressão clara e sem qualquer dúvida de um verdadeiro sentimento de desprezo e indiferença pelo sofrimento alheio, uma unívoca expressão de racismo de inteligência que tão bem caracteriza o racismo de classe dominante, culpabilizando a condição de pobreza, de ignorância e analfabetismo dos indivíduos pelos seus trágicos destinos. Ou seja, a inaptidão social destes cidadãos, sejam nacionais ou migrantes, condena-os à eterna exclusão social, ao sofrimento e, até, à morte.