Acabei de ver a fotografia de uma criança síria morta numa praia da Turquia, consequência do naufrágio de uma embarcação que tentava chegar à Grécia. Não consegui evitar as lágrimas e é com o rosto humedecido que escrevo estas palavras.
Não posso, não podemos aceitar mais imagens como esta. É de uma violência sem paralelo. Não é uma vítima de guerra ou acidente. É uma mártir da hipocrisia em que vivemos. Ponderei copia-la para aqui, mas não o faço porque não a quero ver mais. Nunca mais. Sei bem que o choque de imagens como esta provocam o horror e promovem os lugares mais comuns, naquilo que são as reacções das lideranças europeias. Mas precisamos de mais, de algo diferente daquilo que tem sido a reacção individual de cada Estado. A atitude das elites europeias traduz-se numa ignomínia que, infelizmente, ficará na história do mundo. Também os EUA responderão por esta tragédia, pois a Primavera Árabe que promoveram no Norte de África, não resultou em democracias, mas sim em Estados falhados e à disposição de todos os fundamentalismos.
Ainda hoje trocava impressões com um Presidente de Junta de Freguesia do concelho de Vinhais, a propósito desta tragédia humanitária que experimentamos na Europa e ele dizia, com propriedade, que todas as freguesias de Vinhais bem podiam acudir a esta gente, recebendo e alojando uma ou duas famílias cada. O concelho está envelhecido, sangra de emigração e o território está completamente desestruturado. Porque não trazer algumas famílias para cá e criar novas dinâmicas sociais e económicas?!... Muito bem pensado. Claro que a situação não se resolveria, mas seria um excelente contributo.
Esta criança bem poderia ter sobrevivido e, depois, ter tido direito a uma vida longa e digna. Não, não teve direito a nada, apenas a uma curta experiência traumática à qual não sobreviveu. E o terror supremo é olhar aquele pequeno corpo morto de 12 anos , que a força maior das correntes marítimas depositaram naquela praia e imaginar um dos meus filhos naquela circunstância. Muito triste.
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