18 março 2009

despojamentos

Neste último ano da legislatura de um governo socialista e em vésperas de novo período de eleições vivemos um tempo particularmente difícil a nível mundial, nacional e, como não poderia deixar de acontecer, a nível local. Estamos já habituados a ter e a ser menos que os outros – leia-se, outras regiões do país, e por isso mesmo, maior tolerância temos à miséria e ao despojamento que nos infligem. Infelizmente, ontem, hoje e, desconfio, amanhã Lisboa e suas instituições continuarão a ter sobre o território nacional uma visão holística, na qual o todo se impõe ao particular e/ou às partes, esquecendo-se que são as partes que constituem esse todo e que há diferentes partes. Também seria importante que essa visão torpe e distante do país das pessoas que o habitam implicasse que o “todo” ultrapassasse as periferias das grandes urbes litorais.
A distância que nos separa desse outro Portugal faz com que sejamos vistos como algo que está a definhar e que em breve desaparecerá e, como tal, é desperdício nacional investir nestas geografias marginais. Aquilo que temos assistido nas últimas décadas – curiosamente, ditas democráticas, e em particular mais recentemente, sob o (des)governo socialista é um incessante e continuo desinvestimento na região transmontana, despojando as comunidades dos parcos bens e serviços que ainda sobravam. E não adianta os eleitos locais e nacionais pelo partido socialista virem a terreiro dizer que nada foi retirado ou subtraído aos transmontanos, pois estes bem sentem na sua vivência quotidiana as crescentes dificuldades. Mas esta reflexão teria que ir mais além e numa viagem sem sair do lugar, percorro os trilhos dessa áspera realidade:
- Centralizam-se serviços administrativos, impondo uma racionalidade financeira e consequentemente afastando-os dos cidadãos;
- As infra-estruturas básicas, em pleno século XXI, continuam por cumprir. Na região ainda há comunidades sem direito à água, em qualidade e quantidade mínimas e suficientes. Ainda há muitas comunidades sem direito a um saneamento básico salubre e higiénico;
- As vias de comunicação regionais e locais encontram-se num estado lastimoso e, por isso, situações como a da aldeia de Macedo do Mato, que recentemente foi notícia nacional pelo caricato e pela evidência dos interesses pequeninos da gestão autárquica em Portugal;
- Transportes públicos deficientes, sendo negócio para um mercado privado que não respeita nem defende os interesses dos utentes;
- Transformam-se aldeias em centros de dia e/ou lares de 3ª e 4ª idade – essas instituições totais entendidas pela sociedade em geral como uma antecâmara da morte e dos cemitérios;
- Abandona-se ostensivamente a agricultura e a agro-pecuária, sobrando por todo o distrito a pequena agricultura que não mais serve do que para alimentar os próprios e afins;
- Indústria não há;
- Um sector terciário minimalista, reduzido que está (salvo raras excepções, dos franchisados…) ao próprio negociante atrás do balcão;
- Trocam-se valências hospitalares por helicópteros (que por acaso e só, ainda não chegaram!?...);
- Trocam-se SAPs por VMERs;
- Prometem-nos ICs e auto-estradas como eu prometo rebuçados à minha criança, mas só se ela se portar bem… (seja lá o que isso for!?)
E a tudo isto assistimos nós e assistem, impávidos e serenos, os senhores investidos nas nossas autarquias pelos cidadãos da região, lavando da culpa as suas mãos e focando a sua atenção e o seu esforço nas amarras dos seus quintais, preocupados com a eminente hipótese sacrílega de uma invasão de vacas ou gados dos vizinhos às suas propriedades – quais guardadores de quintais… E assim somos (des)governados. Haverá alguma evolução positiva para a nossa região nos últimos anos!?... Não creio e, inclusive, temo que esta situação não só se mantenha como se degrade até ao dia do despojamento final.
Por tudo isto, este ano de 2009 é um excelente ano para nós, transmontanos, demonstrarmos através do voto, o nosso descontentamento e a nossa revolta pela imensa e manifesta incompetência daqueles que têm exercido o poder local e nacional. O Bloco de Esquerda ao reunir agora e assim também em Bragança percebe o reforço, a legitimação e o ânimo, simbólicos e efectivos, que a sociedade portuguesa deposita na sua capacidade e no seu projecto político. Sim, porque o BE não ambiciona uma sociedade imaginada, mas sim uma sociedade realizada e, em todos os momentos, procura transmiti-la aos portugues@s, se quiserem teimosamente, mas sempre dizendo no que acredita e ao que vem. O desafio do BE em Bragança é enorme, pois se há quatro anos éramos vistos como “aves raras” ou “despenteados mentais”, hoje percebemos a enorme expectativa na nossa acção de esquerda, a enorme expectativa em relação às nossas propostas socialistas. Porque é Esquerda, porque é Bloco, é Bloco de Esquerda.
(publicado no jornal Nordeste do dia 17/03/2009)
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fotonovela
(no mesmo jornal)
E tudo isto num jantar de aniversário (10º) do BE em Bragança no passado dia 14 de Março, assim relatado pelo Jornal Nordeste:

e o povo pá?

17 março 2009

andrajoso

Acabei de passar por uma menina que à porta de uma grande perfumaria (reparei ao longe) oferecia amostras de um perfume qualquer às mulheres e aos homens que passavam. Sim, ia oferecendo a uns e a outras numa tal velocidade que não conseguia antecipar quem se aproximava. À medida que me aproximo, pensando que ela me iria oferecer procurava já uma desculpa e um agradecimento, mas eis que, quando passo perto, ela olha para mim e resolve não me oferecer a tal tirinha de papel "bem" cheiroso... segui impávido e sereno, mas de certa forma chateado, pois não percebi porque é que aquela miuda, declaradamente, não me quis dar uma amostra!?... Enquanto caminhava pelo shopping fui a mascar este pensamento e então relembrei vários outros episódios semelhantes que me levaram à hipótese de um determinado comportamento padrão face à minha pessoa: ou eu não tenho cara de consumidor, ou eu não tenho ar de quem tem dinheiro, ou eu tenho aparência alienada, ou eu tenho aspecto deslavado, ou eu tenho mau cheiro, ou afinal, eu tenho é muito mau aspecto e afasto qualquer tentativa de marketing directo ou mais agressivo!?... sim, deve ser isso ( "- que sorte!..." estarão muitos a dizer). E as poucas vezes que alguém se aproximou assim de mim deve tê-lo feito em total desespero comercial...
Recordo um momento vivido ao qual não dei importância, e que como consequência maior teve a indignação da minha própria mãe, que ofendida desancou uma comerciante, por acaso sua conhecida: isto ter-se-á passado mais ou menos há 5 ou 6 anos numa loja de roupa onde a minha mãe ainda hoje é cliente. Deixei-a à porta desse estabelecimento e fui procurar estacionamento, passados uns minutos aproximei-me da loja e, como a montra teria peças interessantes, parei por uns instantes, com este meu aspecto de sempre, em contemplação, só depois fiz o movimento de entrar na loja, mas logo fui empedido pela comerciante que num tom afirmativo me disse: "- ... aqui não há nada, vai-te lá embora que não te dou dinheiro!"

16 março 2009

arqueológicas

obra-prima vitima de banalização

O Português é uma "obra-prima" vítima de "um processo de banalização gravíssimo" e a parcela de palavras empregues é "ínfima" face às possibilidades, afirma o filólogo Artur Anselmo, presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa.
Para Artur Anselmo, o Português está a ser vítima de uma banalização que faz com que, cada vez mais, "as pessoas falem todas da mesma maneira", empregando "uma parcela ínfima" dos vocábulos ao seu dispor.
"Nós temos 110 mil palavras dicionarizadas - e não falo nas locuções, que aí iríamos para as 300 mil - e o Português básico está reduzido a menos de mil palavras, o que é péssimo", declarou, criticando "esta falta de variedade, esta uniformidade em que caímos". Ler o resto da notícia aqui.

mais e mais notícias...

http://www.rba.pt/comment.php?comment.news.2946

http://www.brigantia.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1822&Itemid=43

11 março 2009

reflexos tardios na imprensa regional

A propósito da última reunião da Assembleia Municipal de Bragança, o Jornal Nordeste faz na edição de ontem (dia 10 de Março) uma peça acerca da minha intervenção sobre a política municipal para o ambiente - ler aqui. Estranhei na altura não haver repercussões nos média regionais, mas tal como se costuma dizer, também aqui mais vale tarde do que nunca....

10 março 2009

nem Jesus Cristo teria soluções

Mário Crespo entrevistou Medina Carreira, ontem à noite. Não tive oportunidade de ver e só agora, recorrendo ao arquivo online da SIC, a pude visionar. O que para muitos será uma visão cinzenta e salazarenta de Portugal, para mim é uma excelente e corajosa opinião da realidade nacional.
Tentei colocar aqui o video mas com pena não consegui. É que este é mais um grande momento de reflexão nacional e por isso deixo aqui o sitio onde a podem ver - imperdível. Tal como o entrevistado diz, pena é que mesmo que um milhão de portugueses estejam a ver e ouvir esta conversa, ainda restam cerca de nove milhões que continuarão na ignorância...

08 março 2009

dia mundial da mulher

Cada mulher
o tempo
de se viver numa ilha

Cada mulher
o templo
que se constrói numa ilha

Cada mulher
o tempo
do vento sobre uma ilha

Cada mulher
o tempo
que o vento destruiria

Esta mulher
no centro
do corpo traz uma ilha

Esta mulher
um templo
no centro da sua ilha

Esta mulher
o centro
já do templo não da ilha

Esta mulher
oh templo
de tudo na minha vida
(David Mourão-Ferreira)

Quase no final do dia, não posso deixar de assinalar este facto. Apesar de ter algumas reservas quanto à necessidade de tal ser "comemorado" - o género não deveria ser, não pode ser, condição de qualquer distinção ou descriminação e, por isso, dias mundiais, quotas ou paridades são conceitos com os quais convivo mal. Mas ok... aceita-se, pois sabemos a diferente condição a que a Mulher é votada por esses "mundos" fora...

californication - já cá canta....



07 março 2009

as novas tecnologias e António Barreto

Ainda ontem fiz aqui, nesta esquina de espelhos, referência à nova revista Ler que acabara de chegar às bancas e, consequentemente, à minha mão e aos destaques que os meus olhos encontraram numa primeira olhadela... Pois bem, tendo tido uma manhã de tranquila leitura, li parte substancial da mesma. A entrevista a António Barreto desde logo me chamou a atenção e, agora, depois de lida re-confirmo a elevação da atitude e a qualidade do seu pensamento. Entre vários assuntos abordados, quero referir a sua perspectiva das novas tecnologias. Não que concorde totalmente com ele, mas porque surge num momento em que, academicamente, tenho partipado em algumas acesas e aguerridas discussões acerca da evolução dessas novas tecnologias e sua importância para os individuos e sociedades. Aconselho vivamente e com insistência para que leiam esta entrevista. No entretanto e para vos abrir o apetite, reproduzo aqui uma pequena parcela da mesma:

Considera a força da imagem uma ameaça ao livro?
Considero. Não sou capaz de lhe dizer: o livro vai desaparecer.
Até já disse o contrário. Numa conferência para editores, em 2001, dizia textualmente: «O livro é eterno.»
É verdade. Creio que é eterno mas creio que o consumo do que lá está dentro vai ser cada vez maior por outros meios. O livro como objecto, tal como o conhecemos hoje, vai ter tiragens menores, vai ter uma menor propagação. Dizem que há agora uns ecrãzinhos onde se põem lá dentro 50 livros.
Ainda não experimentou essas novas tecnologias de leitura?
Ainda não. Já vi fotografias. O que está em maior perigo imediato são os jornais e as revistas. Haverá sempre qualquer coisa que se pareça mas creio que nós vamos assistir, nos próximos 10 anos, à morte de um grande número de jornais no mundo inteiro.
A ameaça é a Internet?
É. O online substitui-os. Podemos sempre argumentar que o online pode dar coisas que os jornais não dão, nalguns casos pode ser melhor do que os jornais são. Muitos juízos podem ser feitos. Eu estou à espera da prova, não tenho uma visão definitiva sobre isso. Agora, o modo de leitura, a pausa, o sossego, a ponderação, a moderação, a reflexão, a nota, a posição pessoal, geográfica, física com que você lê jornais e lê livros, tudo isso está em vias de extinção, a benefício dessas novas formas que são mais rápidas, que seguramente proporcionam menos reflexão...
(...)
Sendo a Internet uma ameaça à leitura, como diz, o esforço para criar uma literacia computacional desde cedo será um erro?
A literacia computacional não é um erro. Eu tive que aprender, já tarde. De facto, o computador, a informática, a Internet podem transformar-se num instrumento de trabalho, de conhecimento e de comunicação importantes. Acho que todas as pessoas devem aprender a usar essas coisas.
Pergunto-lhe isto porque o Governo aposta, com o Magalhães, em criar essa literacia desde cedo.
De maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram "cultura livresca". O que é terrivel. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa - e noutras partes do mundo - é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.

aquisições

Espaçados por algumas semanas, deram entrada no acervo estes três novos títulos:
- Tuan, Yi-Fu, 2008, Space and Place, London, University of Minnesota Press;
- Carmo, Renato Miguel do, 2006, Contributos para uma Sociologia do Espaço-Tempo, Oeiras, Celta Editora;
-Vermeulen, Hans e Govers, Cora (org.), 2003, Antropologia da Etnicidade - para além de "Ethnic Groups and Boundaries", Lisboa, Fim de Século Edições;

06 março 2009

Ler, com prazer

Deste número 78 da revista Ler quero destacar a entrevista de Carlos Vaz Marques a António Barreto, agora presidente da nova fundação Francisco Manuel dos Santos, na qual reflecte sobre o papel da Escola na educação e na leitura. Depois, a questão "Privacidade e Bom Senso" parece-me interessante. Terei um fim-de-semana bem recheado!

interesses, hipócritas e vice-versa

Hoje, na Assembleia da República, foi votado um projecto do partido Os Verdes que propunha a classificação da Linha do Tua como património de interesse nacional. A proposta foi rejeitada pela maioria socialista, tendo o PSD e o CDS-PP optado pela abstenção. BE e CDU votaram a favor, assim como os dois deputados do MPT que integram a bancada do PSD.
Na discussão que antecedeu a votação, realizada 5ª feira, o PS acusou o partido ecologista de querer impedir a construção da barragem da Foz do Tua, tendo o deputado do PS Mota Andrade, eleito pelo distrito de Bragança, dito: "tem um só objectivo: ser mais uma impossibilidade à construção da barragem da Foz do Tua, apoiada pelas populações (de Trás-os-Montes) e pela maioria das autarquias".
Não sei como referir-me a esta afirmação! Mas como pode o ilustre parlamentar afirmar que a maioria da população de Trás-os-Montes apoia a construção de tal barragem!?... Que dados suportam tal afirmação!?... (só se for o resultado das eleições legislativas de 2005) Onde está escrito que a construção da barragem defende os interesses das populações transmontanas!?...
Por outro lado, esta atitude do PS leva-me a prever que, quando estivermos a discutir a regionalização, este mesmo deputado e toda a sua tropa regional, irá apoiar a proposta agora falada das 5 regiões, isto apesar de sempre terem jurado que, como transmontanos, defenderiam em primeiro lugar os interesses da região - ainda na última Assembleia Municipal de Bragança um ilustre deputado da nação afirmou publicamente a defesa da região de Trás-os-Montes e Alto Douro. A ver vamos se outros interesses maiores não se levantarão!!!...
"Não estamos a toda a hora a dizer que nos amamos. Mas cada vez que ele o diz sem eu contar ainda me arrepio..." Clepsydra, ainda agora.

há dias assim...

[ La reproduction interdite - 1937, René Magritte]

05 março 2009

mistifória jactância

Exmo. Sr. Vale,
Na prossecução de e-mail anterior (abaixo transcrito) e que desde já agradecemos o seu envio, compelimo-nos a solicitar o favor de nos enviarem a documentação, que entretanto foi remetida, mas com a alteração atinente ao cabeçalho, ou seja, que daí conste inserção física do nome do fornecedor de serviços. Obrigado.
Sem mais de momento e ficando a aguardar o prezado envio de V.Exas., subscrevemo-nos com a mais elevada estima e consideração.
Atentamente,
(sic)

poesia urbana

Fado dos Contentores

Já ninguém parte do Tejo
Para dobrar bojadores
Agora olho e só vejo
Contentores contentores.

E do Martinho Pessoa
Já não veria o vapor
Veria a sua Lisboa
Fechada num contentor.

Por mais que busques defronte
Nem ilhas praias ou flores
Não há mar nem horizonte
Só contentores contentores.

Lisboa não tem paisagem
Já não há navegadores
Nem sol nem sul nem viagem
Só contentores contentores.

Entre o passado e o futuro
Em Lisboa de mil cores
O sonho bate num muro
De contentores contentores.

Por isso vamos cantar
O fado das nossas dores
E com ele derrubar
O muro dos contentores.

Manuel Alegre, 04.03.2009

03 março 2009

um bom dia

Hoje foi um daqueles dias que se podem considerar Bons. Apesar de, ao rair do primeiro Sol e quando ensonado saí da cama, não parecer mais do que mais um dia... igual a ontem e ao provável amanhã, o certo é que agora, já bem depois de o último Sol ter desaparecido, posso afirmar a minha satisfação pelo dia que agora acaba. Não queiram saber porquê!... Aliás, será algo que nem eu sei muito bem, mas como e porque o sinto, digo-o. Certinho! Boa noite.

os meus livros todos

Não sei quantos são... um ou dois milhares no máximo. Sempre quis ter o meu acervo bibliográfico organizado, mas por várias razões das quais destaco a preguiça e o comodismo, nunca me empenhei em tal empresa... Mas, ao longo do tempo, fui manifestanto (também aqui) a minha vontade e o meu interesse em conseguir o suporte ideal para tal organização. O primeiro passo, algo que herdei de meu pai, foi o de rubricar todos os livros - na página do título e numa outra qualquer, seleccionada aleatoriamente, a meio do livro. Todos eles, ou quase todos têm a data de aquisição ou oferta nas primeiras páginas. O segundo passo, foi mandar fazer um carimbo com a minha identificação e um espaço para o número do livro... todos estão já carimbados, mas sem o respectivo número, algo que acontecerá quando todo o acervo estiver organizado. Por fim, um software próprio e que apesar de não ser gratuito, apenas custou um valor inicial pela licença de utilização. O seu nome é allmybooks e já está instalado e experimentado. Gostei. É básico, intuitivo e de fácil manuseamento. Agora só falta o tempo e a vontade para começar a introduzir toda a informação...

27 fevereiro 2009

porque é fim-de-semana...

Sem nunca o ter esquecido, recordo-o amiúde, particularmente e sem saber porquê, nestes últimos tempos. A sua presença fazia-se sentir pela figura altiva, bem posta, respeitosa e pelo seu temperamento paternalista e afectuoso. De tez morena e modos lentos, mas acertivos e vigorosos, destacava-se no seu comportamento, a incessante preocupação em agradar aos demais, pelo menos àqueles que consigo conviviam - recordo a abundância e generosidade com que nos recebia em sua casa...
Conheci-o apenas no final de Outono da sua vida, quando o corpo e, principalmente, a memória davam já os primeiros sinais de falência. São muitas as memórias de momentos partilhados e ainda hoje guardo comigo a segurança do seu cuidado, o aconchego e o cheiro do seu abraço e o macio de seu rosto.
Nascido em 1915 no termo de Vinhais pôde completar a 4ª classe, casou cedo e percebendo que a escravidão da lavoura de então não lhe daria muito mais do que quase nada, partiu para o Brasil em busca de uma outra condição, deixando para trás a mulher e seis filhos. Terá corrido bem a vida em terras de Vera Cruz o que lhe permitiu, não só sustentar a família em Portugal, como regressar passados alguns anos a Portugal e à sua terra natal. Com a morte prematura da mulher, deambula pelo país e, em 1973, ano zero da minha existência, casa em segundas núpcias com uma viúva de Famalicão. Aí, numa pequena mas viva comunidade industrial, estabelece-se e vive o resto dos seus dias. Homem empreendedor, investe na pequena indústria transformadora, na construção civil e na compra e venda de propriedades.
Tratava-me carinhosamente por Miguel e a última vez que estive com ele foi em 1996, por ocasião do seu 81º aniversário e poucos dias antes do seu fim, que chegou numa qualquer manhã e depois de assistir à missa. No passado dia 18 de Fevereiro completaria 94 anos e por isso estas palavras estarão atrasadas. Ainda assim, fica o registo de uma memória que teima em conviver comigo. O seu nome era José Marcelino e era Avô.

26 fevereiro 2009

origem do mundo

Reflectindo sobre o recente e triste episódio de uma feira de livros em Braga, em que a polícia apreendeu cautelarmente um livro, por suposta expressa pornografia, argumentando que tal exposição e comercialização atentava contra a moral e os bons costumes das gentes locais que, incautos tropessariam com o seu olhar na capa desse livro, que apresentava uma imagem de um sexo feminino exposto. Imagem imortalizada pelo pintor Gustave Courbet (um dos pais do realismo), em 1866, obra controversa à época e que recebeu o nome de "Origem do Mundo".
Mais do que discutir a hipotética pornografia ou putativa indecência da mesma, procurei as causas e significados de tal episódio.
Numa primeira reacção, mesmo sendo um lugar comum e por demais referido, este é um caso típico de censura, hábito que sabemos de outro tempo, mas com o qual não estamos habituados a conviver, pelo menos de uma forma tão declarada. Depois, é um exemplo que demonstra bem o estado da civilidade da sociedade portuguesa naquilo que é, sincronicamente, a manifesta ignorância endógena portuguesa - ignorância cultural e estética, mas acima de tudo (e mais grave e triste) uma ignorância biológica e anatómica. Em pleno século XXI, preâmbulo de um novo milénio, seria expectável uma outra atitude, um outro comportamento cidadão, manifestando e reclamando uma outra informação e formação que toleraria a difusão de manifestações artísticas e culturais.
No entanto, se tentarmos uma leitura diacrónica na busca de explicações para tal comportamento, talvez consigámos perceber como tudo isto pôde suceder, em 2009 e em Braga - Portugal. Perceberemos a forte castração mental, a hipócrita castidade e o falso pudor de voyeur que nos caracteriza. Para tal, vou ao encontro de Marc Bloch que, já em meados do século XX, chama a atenção para o facto de nas sociedades mais rurais e tradicionais a educação da geração mais nova estar, geralmente, a cargo da geração mais velha. Em tais sociedades, dado as condições de trabalho manterem a mãe e o pai afastados durante grande parte dos dias, as crianças eram criadas pelos avós. Este processo iniciava-se muito cedo na vida da criança, que juntando-se ao grupo de parentes e outras crianças, é educada pela avó, que era a senhora da casa, preparava as refeições e, sozinha, tratava das crianças. Era tarefa sua ensinar a linguagem do grupo às crianças - já quando os antigos gregos chamavam às histórias "geroia" e quando Cícero as denominava "fabulae aniles", não estavam mais do que a registar a importância da avó na actividade da narrativa do grupo. Assim, a mediação dos pais que permitiria a mudança (social) não se verifica e esta forma de transmitir a memória, sugere Bloch, deve ter contribuido, em grau muito substancial, para o tradicionalismo e conservadorismo inerentes a tantas sociedades camponesas.
Por considerar e aceitar tais fenómenos como uma falha educacional e geracional - de berço, de tabu familiar, de carteira de escola e de saúde pública, pedagogicamente recomendo a leitura de CUNNUS - Repressão e insubmissões do sexo feminino, de Alberto Hernando, publicado pela Antígona em 1998, esperando que quem me visita e lê aquilo que eu escrevo não considere pornográfica esta capa e não me denuncie...

Da Antropologia ao Direito, passando pela literatura e a arte, todas as lógicas sociais tentaram reduzir o sexo feminino a estigmas originários, a ritos de sociedade, a cânones, moralidades, estéticas, ficções literárias ou metáforas derivadas do seu nome próprio. Toda esta encenação confunde e visa distrair da mais intensa forma repressiva, matriz de todas as violentações: o domínio do homem sobre a mulher. Para a ordem masculina, o homem é cultura, não passando a mulher de um trânsito entre a natureza e cultura, sempre se justificando o domínio do homem sobre a mulher pela necessidade de regular a parte irredutível de natureza inata da mulher - a parte animal quintessenciada na cona. Pródigo no seu desconhecimento do sexo feminino, o homem pretendeu que o convexo dos seus órgãos genitais é superior ao côncavo do sexo da mulher, argumentando que este seria uma bainha daqueles ou um complemento, mas nunca um sexo específico. Ignorância esta, convém notar, decorrente de temores inconfessados. De facto, não se desprende qualquer ameaça real da natureza da cona que justifique toda a virulenta repressão de que é alvo. O deus ex machina que provoca a violência e a perseguição contra a cona é o medo masculino resultante da precariedade do seu próprio sexo face ao feminino. Medo esse traduzido em misoginias ou exarcebado em machismos, mas sempre inseparável do fascínio que ao mesmo tempo a cona suscita. (HERNANDO, 1998)

25 fevereiro 2009

23 fevereiro 2009

altar de esterco e a colecção ignomínia

Face ao acumular de situações e porque esta podridão começa a cheirar mesmo muito mal, abri uma nova rubrica neste meu espaço e ao qual chamei "Altar de Esterco - Colecção Ignomínia", onde pretendo juntar a escumalha pública, mal cheirosa, que tem contribuido para o lastimável estado da nossa sociedade. Começo esta colecção com meia-dúzia de ilustres, mas sei que brevemente ela vai crescer exponencialmente. Aproveito também para solicitar e agradecer o envio de "cromos" que faltem e se possam enquadrar nesta colecção. Utilizem o email do apurriar e/ou os comentários deste texto. Obrigado.

esgoto a céu aberto

Acabei de ler no Expresso online a sentença proferida pelo Tribunal no caso conhecido por Bragaparques. Deveria exclamar aqui a minha surpresa pelo teor e qualidade da sentença, mas não, não estou. Hoje em dia em Portugal nada nos pode surpreender mais. Este só foi mais um momento... Esta merda está entregue! Este esgoto tem já direito a ver a luz do dia! Impera a ganância e a corrupção no regime e suas instituições. E o problema maior é que assim conseguimos viver e conviver com o reconhecimento público dessa podridão. Desde o início que sabemos que este individuo foi apanhado em escutas legais a tentar subornar o vereador José Sá Fernandes. Agora, o tribunal dá como provada tal tentativa e apenas o multa com 5000 euros!?.... O que é isto!?... Que desilusão!!!...

20 fevereiro 2009

blogue seguinte»

Aproveitando os momentos em que nada se faz... ou melhor, aproveitando os momentos em que nada apetece fazer, viajo através da blogosfera por todo o mundo e sem destino. Para isso basta apanhar boleia do botão que a "blogspot" disponibiliza no header de cada página e que diz: blogue seguinte». Como sou meio trengo nestas coisas das novas tecnologias, mas curioso, vou experimentando e explorando as ferramentas ao meu dispor. Foi assim que comecei a experimentar esse botão e agora, faço-o regularmente. Incrivel quantidade e, principalmente, variedade de espaços e lugares, de pessoas e coisas, de gostos e temas, de linguas e linguagens. Ainda mais incrivel para a minha humilde condição é o facto de esta viagem ser aleatoria e não ter paragens fixas ou roteiro pré-definido (como podem ver nos exercícios que apresento). E mesmo quando resolvemos dar um passo atrás, o seguinte não será igual, ou seja, nunca voltamos ao mesmo sítio onde já estivemos. Pelo menos nas minhas viagens não me lembro de ter repetido um mesmo lugar...
Este é o espanto perante o maravilhoso e infinito abismo que vivemos!
Partindo de casa (do blogue Apurriar):
exercício a
1º - the greatest sports
2º - le depot-vente de la folie
3º - luissanz
4º - blopa
5º - hoffenheim - wir kommen
6º - carangos & afins
exercício b
1º - about the laziness
2º - nichola's blog
3º - club tennis taula roses
4º - norsk internasjonalt piratskipsregister
5º - helena harper's blog
6º - centro de formacion lhaurisilva

redes sociais

porque tenho fama de ser casmurro e teimoso
Sem querer dar muita importância ao assunto e sem querer escrever muito acerca disso, registo aqui a data em que uma amiga, sob a chantagem emocional de que tinha colocado umas fotografias minhas no seu espaço virtual, me "obrigou" a inscrever no hi5. Nunca me senti atraído por tais espaços. Agora, ainda que residualmente, estou lá registado e tenho já dois amigos(!?)... Não sei se por lá permanecerei, mas pelo menos experimentei. Disse.

adenda - a propósito este artigo/noticia no jornal SOL

escadas (rolantes) que não rolam

Eu sei, até porque já assisti ou fui testemunha de inúmeros momentos atrapalhados e embaraçantes, que muita gente tem receio ou pelo menos desconfia destas pontes modernas que equipam os espaços colectivos e que ligam pisos diferentes de uma forma, normalente, pouco elegante e, muitas vezes, abrupta. No entanto, há que dizê-lo, são uma maravilha de descanso e de conforto. Depois de milhares de anos a subir e a descer escadas, agora e aí, são as escadas que, mecanicamente, sobem e descem. Nós, humanos, libertámo-nos desse grande esforço(!?...) e, agora, gostamos de as utilizar pois permitem-nos, entre outras coisas, libertar o olhar para a demais paisagem e seus elementos distrativos. O problema é quando uma dessas pontes - ascendentes ou descendentes, está parada. Pelo menos para mim e, a julgar pelas expressões faciais, para os demais, o bloqueio mental é instantâneo e brutal, só de pensar que temos de dar à perna, chateados quase nos apetece escolher outro caminho (que muitas vezes não existe). Ainda por cima parece-me que custa mais descer ou subir estas escadas do que umas escadas normais (não-mecânicas)... autêntica preguiça mental.

18 fevereiro 2009

aspereza nua da crise

Aquilo que poderia ser um futuro para uma jovem de 19 anos, acaba assim. Resumida e telegraficamente expõe a sua dificil condição. Irmã de mais 7 filhos de mãe (divorciada ou solteira), como parte curricular do seu curso profissional de 11º ano, começou a estagiar connosco no mês de Janeiro. Terminou hoje com este comunicado. Eis mais um exemplo, próximo e expressivo, da real situação do nosso país e que nos impele para a rejeição da estatística fria e dos números oficiais do estado que nos (des)governa. Tentando salvaguardar identidades, transcrevo esse comunicado.


Mensagem original-----
De:
!!!!!!!!!!@sapo.pt [mailto:!!!!!!!!!!!!!@sapo.pt]
Enviada: quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2009 16:54
Para:
???????@inconsulting.pt

Assunto: Presença no estágio amanha.


Boa tarde antes de mais.

Escrevo este e-mail para informar que apartir de amanha talves não
compareça mais ao estágio, visto que, tive que desistir da escola, a
situação aqui em
casa esta muito complicada, a minha mae está com uma depressão enorme
e o que ela ganha já nao chega para pagar todas as dividas.
Ontem já me inscrevi no centro de emprego, tenho a cabeça um pouco
confusa, mas tenho que arranjar trabalho, no entanto depois vou
completar o 12º no curso noturno que a escola tem.
Agradeço desde já o carinho e avontade com que me receberam, a
confiança que colucaram em mim, são todos pessoas excelentes, muito
bem dispostas e com uma forma de ver a vida espantosa.
Admirevos imenso.
Peço então que se por acaso conhecer algum local que esteja a oferecer
emprego que me comunique.
Sem mais nada de momento e pedindo desculpa por vos deixar na mão e
com muita pena por nao poder continuar convosco.

Melhores cumprimentos.

!!!!!! (assinatura)

16 fevereiro 2009

dia no parque natural de montesinho




fotos de Jorge Morais Sarmento


a neve é bonita durante os primeiros quinze minutos! (frase do dia de hoje)

12 fevereiro 2009

200 anos de Charles Darwin

Este Senhor faria hoje 200 anos. Foi ele que, há 150 anos, apresentou ao mundo de então a teoria da evolução das espécies segundo a selecção natural. À época muito criticado, depois e até hoje, enormemente respeitado.

11 fevereiro 2009

eterna questão

(imagem e notícia "roubada" da livraria Pó dos Livros online)
Porque também já me apercebi que é verdade. Vou procurar e vou ler.

amor com amor se paga

Os bispos reunidos hoje, em conferência episcopal, afirmam: nas próximas eleições, os portugueses não devem votar nos partidos que defendem o casamento homossexual.
Interessante seria a reacção destes senhores se os partidos políticos que defendem o casamento homossexual começassem a fazer campanha identica - que os portugueses que aceitam essas uniões não deveriam frequentar, nem acreditar na religião católica e nos seus representantes.

10 fevereiro 2009

desassombro da memória

Hoje, enquanto almoçava e tal como faço regularmente aproveitei para desfolhar o jornal Público, que trazia na sua última página uma crónica de Nuno Pacheco que versava sobre Salazar e suas circunstâncias. Já ontem à noite, mal chegado de Bragança e enquanto trincava uns bolinhos de bacalhão com alface e superbock, liguei o pc e a tv, esta para conhecer as notícias, aquele para abrir hipotética correspondência. Num rápido zapping pelos canais disponíveis, apercebi-me de uma ficção nacional cuja personagem central era Salazar (salvo o erro, na SIC). Com grande sucesso está no ar, também, uma nova série da ficção "Conta-me como foi", que também narra as vidas normais de um Portugal de Estado Novo. Recordo neste instante, esse inacreditável concurso que um qualquer canal televisivo nacional promoveu, no qual era suposto ser eleita a principal figura da história portuguesa. Se não me engano, foi Salazar a figura mais votada pelos portugueses. E por último, hoje, estando eu numa fila de pessoas à espera para ser atendido, ouço a conversa de duas senhoras que, imediatamente à minha frente, vão comentando a excelente produção e o magnífico desempenho de Diogo "qualque coisa" no papel de António Salazar. Ambas assistiram à tal série e adoraram.
Pois é. Quem diria!?... Não haverá dúvida que o tempo tudo cura. À medida que este passa, a capacidade de recordar vai-se esvanecendo. Por mais que alguns (talvez cada vez menos...) lutem contra, é mais do que natural que os fantasmas que povoavam os pesadelos de outrora comecem, progressivamente, a transfigurar-se em heróis românticos e/ou enigmáticos nos "sonhos" que ainda podemos ter... O hiato de tempo imposto pelo tabu histórico resultou num profundo desconhecimento desse periodo do século XX. Agora percebe-se uma crescente vontade de melhor conhecer esses tempos, esses espaços e personagens, principalmente nas gerações mais novas que, sem culpa, não experimentaram essa realidade e por isso mesmo não a conseguem reconstruir mentalmente, porque a memória e as nossas recordações são conservadas através da referência ao meio que nos rodeia.
À medida que a neblina se vai dissipando, perceberemos cada vez mais nitidamente a desmitificação dessa figura central de grande parte do século XX português. E será principalmente através do espelho nacional que é a televisão que o iremos entender.

05 fevereiro 2009

uma vez mais vou LER

Porque ainda não tive sequer tempo de a folhear. Retenho os olhos na capa. Mais uma magnífica capa.

03 fevereiro 2009

Ai Portugal, Portugal! Do que é que tu estás à espera!?...

Ao percorrer os meus atalhos partilhados diários encontrei no Arrastão um texto comentando o programa Prós e Contras da RTP que ontem discutiu a mediática e actual questão do Freeport. Programa ao qual eu também assisti na íntegra. Nada de novo se disse e a verdade é que, tal como diz Pacheco Pereira no Abrupto, foi uma vergonha, pois não houve Contras... entretanto, e como estava a dizer, no blog Arrastão, Daniel Oliveira também reage ao programa de uma forma que considero, no essencial, correcta. Depois, fui ler os comentários que os seus leitores fizeram e houve um que me chamou, particularmente, a atenção e que me deixou pensativo, talvez apreensivo, o que motivou este post e que me recordou a letra de Jorge Palma que dá título a estas palavras. Como seria demasiado esforço para os demais percorrerem o caminho dos links, achei por bem copiar para aqui esse comentário de alguém que assina D.

A curta estória da democracia portuguesa
Após o 25 do 4 de 74, Portugal caminhou para um caos que só foi travado pela União Europeia. Os dinheiros europeus trouxeram o bem estar necessário a militares irrequietos, que apenas esperavam uma oportunidade para agir. A população, iludida com o “progresso” que a UE trouxe e pelas promessas de um futuro melhor e “igual” para todos, não se apercebeu (ou fingiu não se aperceber) que tudo se apoiava numa base demasiado frágil. Depois vieram os emprestimos e a casa para todos, as licenciaturas a peso, ferias no estrangeiro e uma aparente prosperidade geral.
Nos quarteis as altas patentes militares discutiam, secretamente, a fragilidade do país e o sistema que o sustentava. O dinheiro ia satisfazendo os praças e os oficiais viviam confortavelmente.
Com os primeiros sinais de crise (e de cortes no orçamento militar) as altas patentes começaram a partilhar algumas das suas preocupações com os oficiais mais graduados.
Em 2008 a crise já era visivel e o exército faz um pequeno ensaio de revolução (um teste de força), chantageando o Governo. Alguns altos oficiais vêm para a praça pública alertar para o crescente desconforto de “homens que tem armas ao seu dispor”.
O ano de 2008 termina com uma crise à escala mundial. O ano de 2009 trás, para além da crise, um escandalo que evolve o primeiro-ministro. A população não acredita mais nas instituições. As cúpulas do exército decidem avançar. Um golpe de Estado está para breve.
Passem a palavra.
D.

02 fevereiro 2009

Mercado do Livro

Mais uma edição do Mercado do Livro (não tenho a certeza do nome...) este ano e pela primeira vez no Pavilhão Rosa Mota. Se não estou em erro teve início na passada 6ª feira e não sei até quando estará aberto. Sei é que mal abriu já lá estava a mexer em centenas e centenas de livros. Porque ainda foi no inicio e era cedo, a oferta era muita e razoavelmente organizada. Tal como seria de esperar, dei comigo com vários títulos já seleccionados para virem comigo, mas num esforço selectivo acabei por me conter e singir-me às (mais ou menos) imediatas necessidades.
Aqui ficam os nomes dos felizes contemplados com uma viagem até e estadia em Valadares:
- Introdução ao Nacionalismo Galego de José Viale Moutinho;
- Introdução ao Estudo do Parentesco de Christian Ghasarian;
- Comunidades Imaginadas de Benedict Anderson;
- A Lógica da Escrita e a Organização da Sociedade de Jack Goody;
- O Leito e as Margens de Paula Godinho;
Para não ter que escrever um novo post e porque não foi neste Mercado que o adquiri, uma referência para uma colectânea de textos, organizada por João Ferreira Duarte, sobre Tradução Cultural.

30 janeiro 2009

acordo ortográfico.... (uma vez mais)

Lí hoje na edição online do jornal SOL, uma entrevista ao ministro da Cultura, onde afirma que quer que o Acordo Ortográfico, «o mais tardar em 1 de Janeiro de 2010», seja aplicado «a nível oficial e em todos os meios de comunicação social». Quanto aos críticos do Acordo Ortográfico, o ministro entende que «todas as pessoas são livres de escrever como quiserem». Mas pretende que «integrem a nova forma» e, por ele, «quanto mais cedo melhor». Não deixa, no entanto, de deixar uma palavra aos que «trabalham com a língua quotidianamente - os grandes escritores, os poetas». Estes poderão escrever português como entenderem. O ministro garante que não levará a mal.
Então só os grandes escritores é que poderão escrever como bem entenderem!?... mas então e os pequenos escritores!?... e os outros!?... serão obrigados a!?.... (até aqui há descriminação - chamemos-lhe sectarismo intelectual).
Mas afinal de contas, quem é ele para levar ou não a mal!?...
Na mesma secção de cultura deste jornal online, a noticia de que Inês Pedrosa aproveitando o lançamento de um livro seu no Brasil, criticou o acordo afirmando que a adopção de uma grafia para unificar documentos não é importante, até porque muitos acordos acabam por não ser cumpridos. O importante seria que os países da CPLP se unissem para defender e promover a sua cultura.
Nota: como Inês Pedrosa pertence ao tal grupo dos "grandes escritores" pode dizer, fazer e escrever como bem entender. Certo?

29 janeiro 2009

amor...iconográfico



educação musical

Porque há, continua a haver muita qualidade disponível. Sem ser uma novidade, Stef Kamil Carlens (que dizem ser o front-man de palco ideal) e os seus Zita Swoon, ao vivo, conquistando paulatinamente - neste caso, de estrofe em estrofe, um público que não sei se o seu... (desculpem pelo pretencioso título, mas é mesmo isso que se trata).

o meu gadget

Telemóvel. Mas porque não toca ele!?... Hoje sei que será através dele que tudo se passará, mas não agora, nem depois. A ausência sentida até no meu próprio telefone que, teimosamente, não toca!

27 janeiro 2009

primeiro beijo

Foi quando ainda jovem deambulava de bar, em festa, pelas noites longas das vilas e cidades. Por muito ou mais que gingasse o João demorava sempre no mesmo lugar, pois era aí que gostava de estar. Era aí que se sentia bem. Era aí que queria ficar, sempre. Nada mais. Ali, naquele sítio onde sabia poder encontrar Ana, uma jovem conhecida, de tonalidades exóticas, modos simples e olhar intenso. João vivia esses pequenos e breves momentos com tal intensidade que a ansiedade era perceptível. Assim que Ana chegava com dois beijos, o sobressalto nele era tal que logo se manifestava num atropelo de pensamentos e palavras.
Por breves que fossem estes encontros, ele sentia-os imensamente e mesmo antes de cada um deles findar, João só já ansiava por uma próxima vez. Com o passar do tempo e à medida que se iam conhecendo, ele sentia-se cada vez mais preso a ela e, a partir de determinada altura, sentiu que a empatia e a vontade eram recíprocas. Ana também gostava de ali estar.
Uma outra atitude se impunha agora a João, que num gesto improvisado e quando, uma vez mais, Ana sorrindo chega perto de si, lhe diz que a adora desde sempre, desde o primeiro momento que a sua memória a consegue recordar e que é já doloroso para si continuar a conviver com Ana sem poder ir mais além… O lindo sorriso de Ana deu lugar a uma expressão grave e preocupada, o que assustou João, mas Ana sem dizer o que fosse, respondeu-lhe com um beijo, um leve mas longo toque de lábios, no fim do qual segredou: - Que bom meu amor!
Hoje, já bem longe, João recorda esse primeiro momento, conseguindo ainda sentir, na boca de Ana, o sabor desse primeiro beijo e no seu olhar, encontrar a memória desses alegres e bonitos dias.

24 janeiro 2009

um ano mais... Apurriar

Assinalo mais um ano desde o dia em que criei este espaço. Recordo a incerteza e a reticência em publicar e manifestar aquilo que também sou eu. Sim, neste espaço individual, vou depositando aquilo que eu sou ou vou sendo e aquilo onde estou ou vou estando, numa atitude que não entendo como narcísica ou egoísta, mas sim como altruista de quem não tem outras intenções a não ser o gosto de reflectir sobre aquilo que vai acontecendo à minha/nossa volta. Se ambição houve à partida, essa foi a de criação de um espaço de partilha e de comunicação e, passados dois anos, aquilo que posso afirmar é que essa ambição se mantém.
Para mim o ser Blogger não é mais do que ter um espaço - género livro aberto, organizado e arrumado, onde sei que não perderei qualquer informação. É, sem dúvidas, um excelente arquivo. Pessoalmente, continuo a gostar muito do cheiro do papel e de poder escrever, corrigir, riscar, reescrever, borratar, ler e reler aquilo que poderia ter sido mas não foi, aquilo que pensei um dia, mas que por qualquer razão não vingou. Apesar de toda a tecnologia disponível e de todas as novas possibilidades que gosto de conhecer e experimentar, vou continuar a gastar papel e canetas pretas, tentando sempre manter o gosto, a vontade e a arte para aqui ir depositando parte daquilo que vou fazendo.
Uma última linha para agradecer a todos(as) aqueles que, aqui, me visitam e vão interagindo comigo.

19 janeiro 2009

João Aguardela


É com tristeza, profunda tristeza que soube da sua morte. Por tudo aquilo que me proporcionou nos tempos da primeira juventude - o tempo em que o fim não era sentido nem percepcionável.

16 janeiro 2009

a LER

Este mês um pouco mais tarde do que o habitual, mas dia 15 cá está o nº 76 da revista Ler. Para além da enorme entrevista a Agustina Bessa-Luís, e daquilo que já pude ler, retive a seguinte frase:
Num mundo no qual as identidades se vão diluindo, é curioso questionarmo-nos sobre as influências que sofremos e, ao mesmo tempo, fixar a memória daquilo que se vai perdendo a um grande ritmo. Trata-se da morte das tradições e das raízes que explicam aquilo que somos. ( José Luís Peixoto)

15 janeiro 2009

desculpem a insistência

igual a nada

Ontem enquanto percorria os atalhos partilhados dei de caras com um texto muito interessante acerca de livros, escrito por um livreiro. Aqui fica transcrito parte desse texto:
Editam-se livros de mais? Acho que sim, pelo menos para os livreiros, editores, autores e distribuidores. Não tenho a certeza em relação ao público em geral, porque esse ganha, à primeira vista, com a diversidade. A humanidade escreve muito mais livros do que consegue ler, isso é uma evidência. Edita-se um milhão de livros por ano e ficam dois ou três por editar, quer isso dizer que se escrevem dois a três milhões de livros por ano. Se um ser humano pudesse dedicar toda a sua vida apenas a ler, conseguindo, suponhamos, ler quatro livros por semana, 200 por ano, dez mil em meio século - seria igual a nada, tendo em conta os milhões e milhões de livros existentes em todo o mundo. Para terem uma ideia da dificuldade que é para um livreiro gerir uma livraria face aos livros novos editados exclusivamente em Portugal, que rondam neste momento os 16 mil por ano: se quiséssemos disponibilizar todos os novos títulos na livraria, considerando uma média de dois cm de espessura por livro, seríamos forçados a aumentar a Pó dos livros em 320 metros de prateleiras, o que daria mais ou menos 45 estantes, ou seja, teríamos de ampliar anualmente a nossa livraria em dois terços do espaço.
Jaime Bulhosa da Pó dos Livros

14 janeiro 2009

politicamente correcto e ecuménico...

Durante uma tertúlia, ontem à noite na Figueira da Foz, o Cardeal Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, deixou o alerta para as jovens portuguesas:
«Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Ala sabe onde acabam»

09 janeiro 2009

Leituras do Pessoa

Ecolalia Interior
O português é capaz de tudo, logo que não lhe exijam que o seja. Somos um grande povo de heróis adiados. Partimos a cara a todos os ausentes, conquistamos de graça todas as mulheres sonhadas, e acordamos alegres, de manhã tarde, com a recordação colorida dos grandes feitos por cumprir. Cada um de nós tem um Quinto Império no bairro, e um auto-D. Sebastião em série fotográfica do Grandela. No meio disto (tudo), a República não acaba.
Somos hoje um pingo de tinta seca da mão que escreveu Império da esquerda à direita da geografia. É difícil distinguir se o nosso passado é que é o nosso futuro, ou se o nosso futuro é que é o nosso passado. Cantamos o fado a sério no intervalo indefinido. O lirismo, diz-se, é a qualidade máxima da raça. Cada vez cantamos mais um fado.
O Atlântico continua no seu lugar, até simbolicamente. E há sempre Império desde que haja Imperador.
(desde longe de 2009 e com uma acutilante actualidade continuo a ler e a ler Fernando Pessoa)

08 janeiro 2009

curiosidade

Hoje o portal Sapo apresenta uma questão aos seus visitantes acerca da reunião que tem lugar hoje em Paris e onde se irá discutir uma estratégia para a resolução da actual crise financeira. Os visitantes que quiserem podem escolher entre três respostas possíveis. O resultado desta mini-sondagem, às 11:20 am, era:
Alguns líderes europeus reúnem-se hoje em Paris para debater «Novo Mundo. Novo capitalismo». É apologista:
- Da reforma do sistema capitalista = 35%
- Da manutenção do actual sistema = 7%
- Da criação de um outro tipo de sistema = 59%

praças de aquecimento

É nestes dias de frio, de maior frio, que estes lugares conhecidos por praças de alimentação (dúvido da sua condição de "lugar", mas...) se enchem de gente. Muita gente e variada... de tamanhos, de cores, de feitios e de odores. Tamanha salgalhada que chega a ser incompreensível como conseguem sequer ter ar para respirar. Mas a realidade é que conseguem e por lá andam... mas haverá pelo menos uma explicação para tal facto e essa explicação é o frio que se faz sentir nas ruas e nas casas. Aqui, pelo contrário, nestes corredores enormes a temperatura imposta é tropical, agradável principalmente para os esqueletos mais sensíveis e/ou para os mais gastos. O ar criador de todo este ambiente parece mais forçado do que condicionado, tal é a sua intensidade. É por isto que se percebe a permanente densidade humana - espaços quentes, aconchegantes(!?) e gratuitos.
Reparem na confortáveis poltronas e sofás que se encontram plantados um pouco por todos os lados destes centros e naqueles que por lá se deixam ficar durante largos minutos (horas)... ora desfolham um qualquer jornal gratuito (oje, destak, meia-hora ou metro) em jeito de quem lê interessadamente, ora se deixam embalar num estado sonolento, que em alguns casos passa rapidamente a sono profundo, permitindo-lhes embarcar, ainda que por breves momentos, num qualquer outro mundo de sonho: quiçá sonhando com as/os jovens que, no momento imediatamente anterior a terem adormecido, lhes passou à frente... quiçá imaginando-se a si próprios enquanto jovens ou comparando atitudes, modos, comportamentos ou modas. Será um qualquer ruído suplementar que os fará despertar sobressaltados e os trará à sua condição.
Experimentem passear pelas avenidas destes espaços e verão como conseguimos encontrar em todos eles determinados padrões de comportamentos e atitudes, numa panóplia geracional e numa heterotópica funcionalidade.

06 janeiro 2009

04 janeiro 2009

Guarda Livros

Já deveria ter escrito há muito tempo aquilo que agora escrevo. Faço-o neste momento porque estou, precisamente, a visualizar na RTPN, em directo, um "episódio" do programa Guarda Livros de Francisco José Viegas. Hoje à conversa em casa de Rubens de Carvalho, cuja biblioteca é impressionante. Apesar de não ter assistido a todos os Guarda Livros - vi com a Filomena Mónica, com o Mário Claúdio e com o Lauro António, sei que no arquivo online da RTP esses episódios estão todos disponíveis (vejam no link do título). Espero em breve ter tempo para os ver, porque de facto este é um daqueles exemplos de bem fazer televisão. Sem dúvida.

02 janeiro 2009

imagem que nos liga


Esta é a imagem que podemos encontrar em vários outdoors espalhados pela cidade de Bragança e, presumo eu, em todas as cidades entre Vila Real e Bragança. Ainda não consegui perceber muito bem a lógica desta imagem, que nos enormes outdoors tem mais informação e onde o rapaz é associado a Vila Real e a jovem associada a Bragança. Desculpem-me os "mágicos" da publicidade e do marketing mas parece-me uma imagem e uma mensagem difusas, que permite inúmeras leituras e que vão muito além da propaganda do regime... de todas, aquela que vou realçar porque perversa é a de que, de facto, muitos casais vivem o suficientemente afastados para precisarem deste esparguete. É verdade... esta imagem é utilizada para anunciar a auto-estrada transmontana!...

dois mil e nove

O tanto que poderia ser dito acerca deste ano. No entanto, abdico em favor destas mil e uma imagens cuja grandeza me deixam estarrecido.

29 dezembro 2008

2008

Sem ter por hábito fazer balanços ou balancetes acerca daquilo que (me) vai acontecendo, o que posso aceitar como defeito metodológico pessoal, o certo é que há no calendário anual determinados momentos mais sensíveis, tais como aniversários pessoais ou daqueles com quem partilhamos a nossa existência, dias de nomeada colectiva como o Natal, ou aqueles que marcam o compasso do tempo absoluto como a passagem de cada ano, passíveis ou susceptíveis a determinadas reflexões pessoais e circunstanciais, sincrónicas ou diacrónicas, de revisão ou projecção, nas quais tentamos perceber aquilo que de bom ou de mau, de positivo ou de negativo, de feliz ou infeliz (nos) aconteceu num determinado espaço de tempo.
É assim que a dois dias do final deste ano de 2008 aproveitando o aconchego que o moderno aquecimento central me proporciona, protegendo-me da permanente geada que sinto lá fora, medito e exteriorizo alto, através destas palavras, a minha perspectiva deste ano. O que farei em duas diferentes dimensões: a primeira é acerca do EU no seu sentido mais lato e a segunda dirá respeito ao NÓS enquanto espaço e tempo partilhado, numa visão holística na qual os EU’s não serão mais do que uma ínfima parte desse NÓS.
EU, bem no inicio do ano de 2008 ou ainda mesmo nos últimos instantes de 2007 exteriorizei perante um reduzido número de amigos que perspectivando o ano que aí nascia, tinha três grandes objectivos que gostaria de ver concretizados durante o decorrer desse ano: a) resolver ou definir a minha situação profissional; b) criar e dar espaço a uma nova vida fazendo crescer o agregado familiar; c) tratar com eficácia e se possível definitivamente o problema de saúde que me afectava. Assim, com optimismo, entusiasmo e “ganas” parti para este grande ano oito depois de 2000.
EU, agora e olhando para todo este tempo que decorreu desde então, posso dizer que o ano terá tido duas grandes fases distintas. Uma primeira correspondente aos primeiros quatro a cinco meses do ano nos quais o esforço, o empenho, o investimento e talvez a sorte, me permitiram acreditar que tudo corria bem e os tais pressupostos pessoais seriam alcançáveis. O investimento num novo projecto empresarial, o prazer na tão desejada e adiada gravidez, a procura incessante e sistemática até ao diagnóstico correcto acerca do meu mal-estar fisiológico e, no entretanto, o esforço no iniciar do mestrado e a edição de um novo livro, completavam os meus dias, substituindo a monocórdica rotina de tempos anteriores.
Depois, e quando chegámos mais ou menos ao meio do ano esse sentimento mais optimista deu lugar a alguma frustração e desalento. O momento primeiro que terá motivado essa altercação do estado de espírito terá sido o abortamento dessa nova vida que estava a caminho. Sem que tenha sido traumático, obrigou a um novo adiamento sem data, de algo que EU considerava já por demais atrasado. Depois e até hoje, numa velocidade atroz, quase como se tropeçássemos numa pedra e desatássemos aos trambolhões pela encosta do tempo abaixo. Pelo caminho e já bem perto deste lugar onde hoje EU me encontro, a percepção de que o investimento e o esforço no novo projecto empresarial não vingou e por isso a minha situação profissional não está diferente daquilo que estava há precisamente doze meses. Também, aquilo que se apresentava como solução para o meu problema físico, apesar de ter conseguido restituir-me algum conforto e qualidade de vida, não se perspectiva como resolução definitiva, mas sim como paliativo ao qual terei que recorrer periodicamente para poder manter a dor e o desconforto distantes. Para além disto, esta mesma solução química que me permite andar razoavelmente bem estraga-me os genes, o que leva o doutorado Professor que me acompanha e cuida dos males a sugerir um adiamento “sine die” do ansiado momento de nova fecundação familiar…
EU, verdadeiramente, não posso dizer que o ano me correu mal. Espero, como o comum dos mortais, por mais e melhor, senão nunca pior, mas também posso afirmar com a certeza de quem o experimentou que anos houve bem melhores para o EU. É verdade, foi também o ano em que um profissional da saúde me perguntou se eu conseguiria transformar-me em vegetariano, pois parte da solução para os meus problemas poderia estar nessa transformação… ainda não lhe respondi.
A segunda dimensão sobre a qual inevitavelmente teria que reflectir diz respeito aquilo que é de todos e sobre a qual todos NÓS deveríamos reflectir. Ainda que relativizando as escalas de importância e perspectivando os sistemas de classificação, na linha do tempo aconteceram, acontecem e acontecerão momentos que pela sua unicidade nos permitem destacá-los positiva ou negativamente. Referindo-me apenas a esse pequeno segmento de tempo que foi o ano de 2008, posso e quero destacar aqueles que segundo o meu julgamento foram e são relevantes para o NÓS.
Desde logo e porque foi para mim o acontecimento do ano, talvez da década e, quiçá, do século que vivemos, a eleição do negro Barak Obama para presidente dos E.U.A. Sem euforias messiânicas, acredito sinceramente que estaremos perante o momento primeiro de algo diferente e estranho ao presente e passado recente, ou seja, de mudança de paradigma na ordem e nos valores mundiais. A esperança que isso possa vir a acontecer é grande e acarreta riscos de embriagamento dos sentidos e da razão, portanto alguma moderação e contenção nas expectativas serão aconselhadas, por hora.
Um segundo momento digno do meu registo foi a permanente e crescente sensação de insatisfação e, depois, contestação social que por todo o lado se começou a sentir, principalmente e nomeadamente em Portugal, onde um Governo com grande legitimidade não conseguiu dar as respostas minimamente suficientes e capazes para os problemas dos portugueses e por isso, pudemos assistir ao desbaratar do seu capital de legitimidade na real proporção das manifestações públicas por parte dos vários e diferentes segmentos da sociedade: saúde, forças armadas, polícias, tribunais, agricultura, universidades, professores, pensionistas, profissionais liberais, museus e agentes culturais, entre outros que não consigo recordar, vieram para a rua manifestar a sua indignação pelas opções políticas do governo de José Sócrates.
Por fim, aquilo que muitos consideravam “ad eternum”, no qual depositavam literalmente todas as suas reservas e que nem nos seus piores pesadelos imaginaram poder acontecer, afinal aconteceu… (estou com um sorriso nos lábios e um no cérebro) a lei do mercado e a força do capital não é infalível. Muito pelo contrário.
E não me peçam para ter pena daqueles que perderam os seus capitais investidos, ainda que agora passem fome. Não consigo!... A minha pena continua a dedicar-se aqueles que não conseguem sequer sobreviver: ter um ordenado mínimo, uma pensão digna, uma existência. Esses outros que perderam aquilo que nunca, realmente, foi deles, e que durante algum tempo ostentaram essa soberba e avidez, borrem a cara e o que bem entenderem com a caca à qual submeteram todos os outros durante esse tempo.
Nem os mais pessimistas dos comentadores ditos especialistas me conseguem refrear a excitação por poder estar a viver este momento. Considero-me um privilegiado por aqui estar agora. Mesmo sem saber onde tudo isto vai desembocar, estou disposto a pagar o meu preço – seja um carro ou uma casa (materialidades que não são e, provavelmente, nunca serão verdadeiramente minhas) para que tudo possa mudar, para que possamos refundar a nossa sociedade (…e não, não sou utópico, nem espero amanhãs gloriosos). Quero sim o fim desta canalhice a quem deram o nome de capitalismo, pelo menos nesta sua versão mais estupidificante e redutora: é que as pessoas não são números, por mais que o afirmem e confirmem, a verdade é que as pessoas são sentidos e sentimentos que chegam além do mísero calculismo dos cifrões. Acabou enfim.
Esta é a minha visão do mundo. Acima de tudo humanista, onde o Homem, cada um do NÓS ocupe o lugar central no mundo, com valores dignos e justos que justifiquem a sua existência. Havemos de experimentar algo diferente, isso sei e por isso não espero.
Deixando esse exercício de adivinhação, que não é mais do que saber antes de saber, acerca do futuro e do ano que aí vem, aproveito estes últimos caracteres para desejar que 2009 possa ser tudo aquilo que NÓS queremos que seja.

21 dezembro 2008

tirem-me daqui...

Angústia é o que sinto sempre que me vejo "obrigado" a vir às compras. Não consigo sentir e entender qual o prazer que pode haver em andar de loja em loja, a mexer e a remexer nas peças, a experimentar tamanhos, feitios e cores, num tal de despe e veste que me irrita e faz doer a cabeça, para além das óbvias reservas quanto à falta de higiene inerente a tais rituais.
Agora, chegados e bem a esse momento único em que, despodoradamente, compramos para terceiros algo que adivinhamos eles gostarem, a angústia ainda é maior. É que para além dos sentimentos que nos ligam e nos relacionam, não é admissível que essa mesma relação implique a troca de prendas e, por isso, cada vez resisto mais a esta obrigação instituida (eu diria mesmo, imposta) pela cadeia consumista e hedónica e à qual não conseguimos fazer frente. Está tão intrinseca e profundamente ligado à nossa maneira de ser que, alegremente, largamos os euros (que muitas vezes nem temos) em troca de um conjunto de sacos e embrulhos muitos bem embalados.
Com um nó na garganta cá ando eu de loja em loja com a Maria (a minha) à procura não sei bem o quê... um dia tudo será diferente. Pelo menos para mim, hei-de conseguir libertar-me. O prazer que me dá ofertar é genuíno.

18 dezembro 2008

sock and awe

Encontrado no blog Causa Nossa, este link para um dos últimos grandes sucessos planetários dos videojogos. Vejam lá (aqui) se não é divertido!...

17 dezembro 2008

desperdícios da época

Nada contra as iluminações de Natal, mas em tempos dificeis como aqueles que vivemos e aqueles que esperamos, não seria aconselhável alguma moderação!?... Precisaremos de tanta luz para o sentirmos!? Não me parece. Aqui estaria uma forma de poupar, de não esbanjar, nem desperdiçar e exemplarmente reduzir os consumos de energia eléctrica. Mais um exemplo do nosso particular gosto pelo supérfluo e dispensável.

16 dezembro 2008

14 dezembro 2008

combustíveis

Depois de muitos meses a sermos explorados pelos senhores do crude, a boa sensação ir a um posto de gasolina e de reabastecer o automóvel sabendo que o preço do litro de gasóleo está já abaixo de 1 euro. É claro que queremos sempre mais (neste caso, menos), mas este preço é já um preço razoavelmente justo. Aguardemos para ver o que aí vem...

11 dezembro 2008

comunicado

Serve o presente para informar que a partir deste momento (leia-se data) estou efectivamente desempregado, sem trabalho e desocupado. Também preocupado. Enfim, caso alguém que por aqui passe os olhos, precise ou conheça quem precise dos serviços de um tipo como eu (que pouco ou nada sabe fazer/sabe fazer de tudo um pouco) não hesitem em contactar-me. Para o que for e onde for - uma vez que nos querem globalizados, considero também África, Ásia e Américas.... Obrigado.

09 dezembro 2008

instantes urbanos I

O final do dia traz a noite à cidade. Nos passeios maior agitação de corpos que, mais ou menos, apressados regressam, presumivelmente, ao lar. Dentro do carro, mal estacionado, aguardo quem fui buscar. Bem perto de mim sinto essa agitação que os corpos provocam no ambiente. Estou em frente a uma porta de um qualquer prédio. De entre as dezenas de pessoas que espaçadamente, mas com uma frequência cada vez maior, vão passando e se cruzam comigo, há uma jovem, muito jovem (não mais de 20 anos) que suspende o passo e pára entre mim e a tal porta. Saca do telemóvel e liga a alguém. Aparentemente e a julgar pelo tempo que demora a devolver o aparelho ao bolso de ganga, apenas deu um toque a esse alguém. Num ápice aparece dentro do prédio uma outra jovem, igualmente jovem, que num movimento simples e rápido, se aproxima e, já na soleira do prédio, cumprimentam-se com um leve, mas cúmplice toque nos lábios. Com vontade lançam-se para o passeio em direcção e destino para mim desconhecidos.

06 dezembro 2008

da Disney a Paris

Tal como disse aquando do regresso desta viagem, aqui ficam alguns momentos das deambulações pelas ruas da fantástica Disney e pelas ruas da reluzente Paris.








03 dezembro 2008

arquivo pessoa

Mais um hiper-lugar especial. Informação retirada da Revista Ler online. A magnífica colecção de Fernando Pessoa agora disponível na internet. Eu já acrescentei o seu link aos meus atalhos que quero partilhados.

de regresso...

Depois de uns dias no mundo da fantasia e das luzes, o regresso. Em breve ilustrarei aqui esses momentos.

26 novembro 2008

dernières notes

Quando faltam apenas algumas horas para embarcar rumo às alturas, estou calmo, estranhamente calmo e ainda poderei descansar algumas horas. Entretanto, venho aqui partilhar algumas das expectativas para estes dias em Paris. Sem querer desvirtuar o principal objectivo desta viagem - levar a Emília à Disney no seu 7º aniversário, tentarei cumprir alguns objectivos pessoais, nomeadamente, visitar o Louvre e conhecer pessoalmente a ilustre Lisa; revisitar a gastronomia grega (famosa em Paris); fazer uma (a primeira) visita à morada de Jim Morrison; conhecer a Sourbonne e, se possível, experimentar o Moulin Rouge...
Durante os próximos dias andaremos por terras gaulesas, dando a conhecer à (cada vez menos) pequena Emília o mundo fantástico da Disney. Se for possível durante esses dias, passarei por aqui.
Jusqu'à là, à notre retour, restent bien...

25 novembro 2008

nervoso miudinho de vésperas

Nem era preciso ler esta notícia para começar a sentir um nervoso miudinho cá nas miudezas entranhas. Custa-me sofrer por antecipação, mas é mais forte do que a minha razão e por isso, cá estou eu em plena crise de ansiedade. Tudo porque vou ter que levantar voo e retirar os pés do chão. Por mais que tente não consigo estar confortável lá cima, algures numa qualquer esfera... Esforço-me por estar ausente dessa inevitabilidade que acontecerá apenas daqui a 48 horas, mas toda a parafernália dos familiares preparativos (bem ilustrados na notícia) impede essa manifesta vontade, diria mesmo, manifesta necessidade.

24 novembro 2008

arcaísmos ou sobrevivências

(algures num jornal diário deste último fim-de-semana)

19 novembro 2008

Verborreias

Já desde o noticiário das 8 da manhã que sei que a Dra. Manuela Ferreira Leite disse, a propósito do sistema judicial, que deveríamos suspender a democracia. Mas só agora conseguir ter tempo para ir ler na íntegra o discurso da lider do PSD. Magnífica ideia, como é que ainda ninguém se tinha lembrado disto... suspender a democracia. Mas como se fará uma coisa dessas!?.... entretanto, e para o caso de não terem tido a oportunidade, aqui ficam algumas das tiradas da cólica verbal de Manuela Ferreira Leite: (retiradas completa e propositadamente do contexto)
«Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia…»
«Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se»
«E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia»
«Fizeram-se umas coisitas, mas não é a reforma»

Direito a Resposta

Tal como previa, António Pires reagiu ao texto que escrevi no passado dia 3 de Novembro. Como não podia deixar de ser, dou aqui espaço para que todos possam conhecer a sua argumentação e resposta ao meu texto (reler aqui) que, por sua vez, fora uma reacção a um texto da sua autoria (reler aqui) publicado no Jornal Nordeste, no passado dia 21 de Outubro.

17 novembro 2008

into the wild

Não percebo porque o traduziram para português assim!?... o título original, que dá nome a este post, não significa "lado selvagem" e para além do mais, desvirtua o significado e o sentido. Mas enfim, também não é por isso que escrevo.
Algures durante a semana passada, a caminho da tertúlia, dei com esta capa na prateleira dos destaques da FNAC. Logo me chamou a atenção este autocarro que reconheci de imediato e não foi preciso mais do que ler a informação contida nesta capa para perceber que sim, de facto já conhecia este autocarro de um filme que víra durante o último Verão e que gostara imenso. O título desse filme era homónimo, ou seja, "into the wild", com argumento e realização de Sean Penn e conta o trágico percurso de Christopher McCandless, jovem americano do final do século XX.
Depois do filme encontrara, agora, o livro e sem reflectir muito, desde logo, peguei num exemplar, só que ao contrário do que seria normal, não o comprei. Dirigi-me com ele para o espaço café da FNAC onde ávido o comecei a ler. Como os minutos voaram e tendo que ir embora, a custo, lá o devolvi ao seu lugar. Desde então e até hoje, quase diariamente, repito o ritual e, de capítulo a capítulo, lá vou eu lendo o livro, relegando para segundo plano a tertúlia e os parceiros da mesma.
Hoje, tal como no último dia, lá apareço eu na referida reunião já com o livro pronto e, pelos vistos, com vontade manifesta de o ler. O amigo Paulo intrigado pelo súbito interesse neste livro, ainda me questionou porque não o comprava (!?). A resposta foi pronta, apesar de meio alheado da realidade, disse que não queria gastar dinheiro com este livro (a lista daqueles que eu quero ir buscar é tão extensa...) e, para além disto, até estava a achar piada ler assim o livro, todos os dias e ali aos poucos...
Um pouco depois, continuando eu absorvido pela narrativa, o Paulo levantou-se e diz-me que vai a qualquer lado e que regressaria para se despedir. Muito bem, eu, no entretanto, continuaria ali, um pouco mais de tempo. Passados mais não sei quantos minutos, lá regressa ele e com um pequeno saco na mão. Ao estender-me essa mesma mão para se despedir, pousa o pequeno saco em cima do livro aberto que lia. Meio atrapalhado e surpreso, pude perceber, mesmo através do saco, que dentro estava um livro igual ao que eu lia.
Enquanto o Paulo se afastava, eu aparvalhado, fui incapaz de emitir qualquer som, para além de uma estúpida gargalhada. Apesar de tarde, Obrigado Amigo.

11 novembro 2008

Hoje no Campo Pequeno

Porque a vida é, obrigatoriamente, feita de escolhas, prioridades, impossibilidades, eu, com imensa pena, não vou poder estar mais logo no Campo Pequeno em Lisboa a assistir ao concerto dos magníficos Sigur Rós. Com paciência aguardarei novo regresso.

10 novembro 2008

Ana e Sofia

Memória de um momento breve num passado recente.
Bem perto, sentadas de olhos nos olhos, a conversar sobre não importa o quê. A intensidade dos olhares trocados e dos intermitentes toques (eu diria carícias) arrebataram-me os sentidos e durante alguns minutos fiquei retido nesta desconhecida imagem. Quem eram e o que as relacionava não sei, nunca o saberei. Certa foi a agradabilidade para os meus sentidos e imaginação. Não consegui perceber uma palavra do que diziam, mas também não importava. O exercício passou, obrigatoriamente, por lhes dar um nome, pois tinham que ter um e próprio. Durante esse curto espaço de tempo, nada mais aconteceu ou importou. Toda a existência se reduziu aquela mesa e sem resistir deixei-me ficar absorto, apenas com a ligeira preocupação de não ser percebido (concerteza perceberam-me…). Nunca como ali um guardanapeiro foi alvo de tamanha sensualidade e carinho. O tempo que demorou aquele momento desconheço, pois a determinada altura, mesmo sentindo que poderia ficar assim eternamente, num lúcido sobressalto forcei a minha saída.
Esta narrativa resultou da perturbação que Ana e Sofia e a beleza e força da sua intimidade causaram em mim.

09 novembro 2008

pornografias

05 novembro 2008

yes he can

Já está. Muito bem. Aguardemos então pela mudança...

04 novembro 2008

a ler pela septuagésima quarta vez


No próprio dia da compra, fresca portanto. Sem tempo ainda para perceber o seu conteúdo, apenas os títulos e as letras gordas. Claro é que temos o MEC (feio como sempre) brilhante e desinibido:

LER: Escreve melhor de noite ou de dia?
MEC: É igual.

LER: Tranquilo ou sob stresse?
MEC: Escrever é sempre um stresse. Não é o escrever, é o antes de escrever. A Dorothy Parker dizia que ter escrito é a melhor sensação do mundo. Ter escrito.

LER: Sóbrio ou com um grão na asa?
MEC: Durante muitos anos, sempre com um grão na asa. Sempre. Durante dois anos, também com coca. Ajuda. Porque a coca corta o álcool. Mas o que acontece quando estás a escrever é que tens o uísque ao lado - ou a vodca, ou seja o que for - mas se estás a escrever, o gelo derrete. Quer dizer, ou bebes ou escreves. Não dá para fazer as duas coisas.
(...)
LER: O Miguel começou por tentar ser poeta, também.
MEC: Claro. Toda a gente. Poemas em barda.

LER: Escreveu muita poesia?
MEC: Sim. Muita. Foda-se. Centenas de milhares de poemas...

LER: O que o desencorajou de continuar a escrever poesia?
MEC: Ser uma merda.
(excertos da entrevista de Miguel Esteves Cardoso a Carlos Vaz Marques)

One day to change the world

O dia em que a América poderá mudar é hoje. O dia em que o mundo poderá mudar(!?) é hoje. Eu, como não posso votar, pelo menos escolhi o meu candidato. Sem qualquer dúvida, o melhor para todos seria que Barack Obama fosse eleito Presidente. E hoje, será o dia último da espatafurdia presidência do ignóbil George W Bush. Até que enfim.
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