21 maio 2011

de pedras fez terra

A construção da auto-estrada número quatro entre Matosinhos e Bragança finalmente entrou em velocidade de cruzeiro e no percurso do actual IP4 são já visíveis e sentidas as enormes intervenções na paisagem. Nalguns pontos a futura auto-estrada vai-se sobrepor ao actual traçado do IP4, o que tem prejudicado a normal circulação neste último, tornando-o um percurso particularmente perigoso. Nestas últimas semanas o trânsito tem mesmo sido desviado para a estrada nacional 15 em vários pontos, e adivinha-se que com o avançar da obra o mesmo venha a acontecer em mais locais.
Foi precisamente esse incomodo de ter que desviar para a nacional que me permitiu passar, ao ritmo do intenso tráfego, pela localidade Jerusálem do Romeu, situada entre Mirandela e Macedo de Cavaleiros. O curioso nome desta localidade tem origem na Ordem do Hospital de São João de Jerusálem, mais tarde transformada em Ordem de Malta, que tinha uma dependência no Romeu ainda na idade média.
Sei que um dia já lá tinha passado, mas não recordava nada desse lugar. Foi com alguma surpresa que admirei a qualidade do casario que ladeia a estrada nacional, foi com curiosidade que pude contemplar alguns edifícios históricos dessa localidade e descobrir o nome de Clemente Meneres, que logo percebi ter sido alguém com bastante importância local. A verdade é que "o Romeu", tal como é conhecida, com nó de acesso e visivel do IP4, é um local muito conhecido, principalmente pelo restaurante Maria Rita, que tem fama de servir um excelente bacalhau e que, segundo consta, terá sido onde o tal Clemente Meneres, comerciante das terras da Feira (Santa Maria da Feira) se hospedou quando visitou pela primeira vez o Romeu em 1874.
Segundo pude investigar, Clemente Meneres interessou-se por este local e aqui viu oportunidades de negócio, o que o levou a investir fortemente, transformando este pequeno lugar num grande e importante centro de produção agrícola. Ainda hoje são famosos, nacional e internacionalmente, o azeite e o vinho do Romeu. Para além da relação de negócios que este empresário estabeleceu por estas paragens, foi também o seu grande benemérito, tendo investido dinheiro seu na requalificação da aldeia - casas, arruamentos e canalização de água, construiu uma escola e uma casa do povo com posto médico e salão, entre outros melhoramentos. Foi também Clemente Meneres o grande responsável pela passagem e paragem (estação) da linha do Tua no Romeu. Concerteza, por interesse muito próprio, mas que sem dúvida acabou por também beneficiar a restante comunidade. Ainda hoje, a população do Romeu não esquece o seu trabalho e a sua dedicação. Ainda com forte presença local, a família mantém o negócio, é proprietária do restaurante Maria Rita e disponibiliza um espaço museológico dedicado a Clemente Meneres e às suas actividades. Será sempre um local de visita obrigatória e ao qual eu, muito em breve quero regressar, com calma e conhecer com pormenor a bonita localidade.
(Estas fotografias foram tiradas numa destas últimas viagens entre o Porto e Bragança, aproveitando os momentâneos alívios da circulação automóvel. Estes edíficios, pareceram-me abandonados)

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